terça-feira, 27 de outubro de 2009

Sorvete de baunilha de verdade!


Sou crítica para sorvetes. Cresci tomando sorvetes da Sorveteria Branca de Neve (propaganda justa), em Lins, todos os feriados, quando íamos para lá, ou então os sorvetes que minha mãe fazia em casa. Portanto, estou acostumada com sorvetes feitos com frutas, chocolate de verdade, ingredientes naturais. E tenho uma mania não muito econômica: eu gosto de sorvetes de qualidade NÃO IMPORTA O QUANTO ISSO CUSTE. O da Branca de Neve já não é o mesmo de 10 anos atrás, mas custa muito barato, cerca de R$5 uma porção grande. Se ele fosse o mesmo da minha infância e adolescência, eu pagaria o dobro, 3 vezes, mais ainda se preciso fosse, para degustar sorvete de verdade. Infelizmente, no Brasil, sorvete de qualidade não está tão disponível quanto eu gostaria. Nem pagando bem.
Não preciso nem dizer que sorvetes daquelas marcas do supermercado, sabe? Nestlé, Kibon (eu sei que não é legal ficar falando marcas, mas... no caso de sorvete, eu supero as regras de etiqueta) - esses eu não como de jeito nenhum. Às vezes eu encaro uma ou outra gelateria em São Paulo, quase sempre me decepciono, ou mato saudade da infância e vou até a Branca... Mas ando achando que para satisfazer minha chatice - assumo: frescura, falta do que fazer, etc, etc, etc - vou ter que fazer meu sorvetinho em casa. E há tempos que eu tenho pedido uma sorveteira de presente para o Haroldo, mas acho que ele não havia se convencido da real utilidade de uma dessas. Esses dias, resolvi fazer sorvete mesmo assim, sem sorveteira, já estava fazendo a receita e me conformando com cristais e cristais de gelo que sobrariam e derrubariam a qualidade do meu produto final ao chão. Mas eu precisava convencê-lo de que uma sorveteira era mais útil que um Playstation 3, ou um Home Theater. Fiz um sorvete de morango (que eu ainda quero acertar a receita) e um de baunilha. Esse último, a cada 2 horas, lá ia eu tirar o sorvete do freezer e batê-lo na batedeira para quebrar os cristaizinhos. Não é que ficou bom? Deu trabalho, mas a textura ficou muito, muito próxima da que eu gosto. E o sabor: bom o Haroldo vive comprando sorvete de creme da Nestlé. A comparação é impossivel: uma fava de baunilha inteira explodindo sabor na boca é muito, muito superior a uma essência artificial duvidosíssima de baunilha. Na foto, dá pra ver os pontinhos pretos, que são as sementinhas da fava. Vale a pena. Podem fazer essa receita tranquilos, porquê se eu aprovei, a chance de qualquer outra pessoa aprovar é muito grande. É, eu sou chata para sorvetes! E resultado: pelo visto, o Haroldo anda procurando uma sorveteira pra comprar pra mim!

SORVETE DE BAUNILHA
Fonte: adaptada de uma receita do David Lebovitz
Rende aproximadamente 1,5L
  • 250mL de leite integral
  • 1 pitada de sal
  • 3/4 de xícara de açúcar
  • 1 fava de baunilha
  • 500mL de creme de leite a 35% de gordura
  • 5 gemas de ovo
  • 1 colher de sopa de Vodka de boa qualidade
  1. Numa panela, aqueça o leite, junte a ele o açúcar e o sal. Abra a fava de baunilha longitudinalmente, retire as sementes e junte-as ao leite quente. Coloque junto a fava de baunilha aberta, desligue o fogo, tampe a panela e deixe descansar por 1h.
  2. Prepare um bowl grande com gelo, coloque o creme de leite num bowl menor, e coloque este dentro do maior.
  3. Numa tigela ou bowl, misture com um fouet as 5 gemas. Reaqueça o leite, e vá colocando-o nas gemas e misturando bem, aos pouquinhos, até ter encorporado todo leite às gemas. Volte essa mistura para a panela.
  4. Cozinhe essa mistura em fogo baixo, misturando o tempo todo com uma espátula de silicone, até que a mistura fique espessa o suficiente para envolver a espátula. Coe a mistura cozida sobre o creme de leite, retire a fava de baunilha, misture com um fouet até esfriar completamente, e adicione a Vodka. Coloque o creme final num pote e leve ao freezer por uma noite.
  5. Na manhã seguinte, se você tem uma sorveteira, coloque o creme congelado nela, e siga as instruções do fabricante. Se você é uma pobre mortal como eu, a cada 2 horas, retire o pote do freezer e bata com a batedeira por 3-4 minutos. Repita pelo menos 5 vezes.

Eu sei, eu sei... dá um trabalhão, principalmente pra quem não tem sorveteira, como eu. Mas sabe o que? Fica tão gostoso, docinho, com aquele sabor honesto de baunilha, um perfume que se espalha quando você abre o pote... Faz tempo que eu não encontro um sorvete assim: simples e tudo de bom, perfeito pra acompanhar um brownie de chocolate beeeeeem amarguinho, ou para ser consumido puro mesmo, leve e encorpado... sorvete de qualidade! Que felicidade...

PS: lave bem sua fava de baunilha usada, seque-a ao sol e coloque-a num pote de açúcar. Ele fica cheirosinho, perfeito para adoçar levemente o capuccino.

PS2: não sei fotografar mesmo, e daí? Além do mais, quando bati essa foto, estava mais ou menos 30 graus e o sorvete ficava derretendo... Embora a foto não faça justiça à receita, dêem um desconto, vai? Sou só uma pobre veterinária dividindo o que faço de bom na minha cozinha com vocês!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Bouquet de alcachofras: presente da Alkachofra...


Já citei que aqui em Botucatu, nós da UNESP nos conhecemos praticamente só por apelidos? Assim que me formei, eu tive que me reacostumar a ser chamada pelo nome, e não de, rsrs, Carnicera, minha alcunha. Durante a graduação eu conheci a Alkachofra, que foi caloura quando eu estava no terceiro ano, e que ganhou esse apelido carinhoso por ser uma cidadã de São Roque, a maior produtora da flor mais gostosa que existe. E recentemente a Alkachofra (com k, é a amiga) chegou na minha casa com um delicioso bouquet de alcachofras de presente para mim. Gentil, não? Preparei-as o mais rápido que eu pude, com uma receita que não é minha preferida, mas a que eu achei que mais fosse agradar ao paladar do Haroldo (vulgo Discórdia), que nunca havia experimentado a iguaria.

Engraçado, né? Mas eu sou uma das poucas pessoas que conheço que adora - adora!! - ganhar presentes que vão direto para minha cozinha: panelas, copos, canecas, potinhos, comida. Portanto, o presente foi mais do que bem vindo, e é claro que a Alkachofra amiga foi convidada para o jantar!

Considerações sobre a receita: essa é uma receita muito, muito simples. Ninguém vai achar "complicado" preparar essa alcachofra, mas muita gente vai achar "trabalhoso". Pois eu bem digo: vale a pena. A delicadeza da flor contrasta com o sabor pungente do bacon e do parmesão (na foto, não tinha parmesão, assim que eu as tirei do forno, foram devoradas e não deu tempo pra foto não...rs), e tudo isso fica bem marcado com o molhinho mais-simples-impossível de azeite, limão e sal.

ALCACHOFRAS AO BACON E PARMESÃO COM DELICADO MOLHO DE LIMÃO

  • 3 alcachofras roxas (fresquíssimas nessa época do ano)
  • 1/2 copo de vinagre de vinho tinto
  • 1 colher de chá de sal
  • 200g de bacon (eu uso o mais magro possível) picado em cubos de 1cm de lado
  • 200g de parmesão de boa qualidade ralado grosso na hora de usar
  • Suco de 2 limões
  • 3 colheres de sopa de azeite
  • Sal a gosto
  • Mais azeite para regar
  1. Limpe as alcachofras: corte com uma tesoura as pontas de todas as pétalas maiores (mais ou menos 1cm), e corte o talo (pedúnculo) o mais próximo possível da flor em si (próximo das sépalas e pétalas). Vá abrindo as pétalas com os dedos, e lave com água corrente a cada espaço que você for encontrando. Imediatamente após lavar, mergulhe a alcachofra em mais ou menos 2L de água com 1/2 xícara de vinagre de vinho tinto e 1 colher de chá de sal (para que não oxidem, ficando escuras). Faça uma por vez, para que elas fiquem de molho o mais rápido possível. Deixe-as descansando aí por aproximadamente 45minutos.
  2. Prepare sua panela de pressão com 2 dedos de água, um pouquinho de sal (que vai temperar o coração da alcachofra) e algumas tiras do talo da flor, se você quiser. Ele dá um sabor muito bom ao caldo onde vão ser cozidas as flores.
  3. Retire as alcachofras do descanso, enxaguando-as em água corrente. Vá colocando pedacinhos de bacon entre cada uma das pétalas que você for afastando, e coloque-as na panela de pressão. É melhor que elas fiquem "justinhas" na panela, para evitar que elas tombem durante o cozimento. Regue-as com azeite de oliva, feche a panela de pressão e cozinhe por 20 minutos quando começar a chiar. Eu coloquei na água do cozimento alguns dentes de alho com casca, para dar sabor aos corações, e também para comê-los com pão depois do cozimento: eles viram um creme dentro da casca, bem mais suave que o alho cru, e muito saboroso com azeite de oliva e sal, numa fatia de pão italiano...huuuuummm...
  4. Enquanto espera cozinhar, prepare o molhinho: misture o suco dos 2 limões com as 3 colheres de sopa de azeite de oliva e sal a gosto. Quem gosta pode colocar pimenta preta moída na hora, moderadamente.
  5. Quando abrir a panela, tire as alcachofras com cuidado, e coloque-as numa assadeira. Polvilhe-as com o parmesão ralado na hora, mais um fio de azeite e forno alto nela, por uns 15 minutos, até o parmesão derreter e começar a ficar crocante. Retire-as do forno e sirva com o molho de limão. Após terminar de comer as pétalas, limpe o coração e sirva-o com uma fatia de pão italiano e mais um fiozinho de azeite, e os dentes de alho que cozinharam com as flores...é bom isso, viu???

PS: um bacon mais "gordinho" poderia dar mais sabor ao coração, pois sua gordura ia derreter durante o cozimento e temperar a flor. Mas eu simplesmente não suporto gordura do bacon...rsrs, por isso uso sempre o magro.

PS2: me ocorreu que alguém pode não saber como se come a alcachofra (ninguém precisa saber tudo na vida, né???rsrs). Para comer as pétalas, retiram-se estas uma a uma, e escorregam-se no meio dos dentes, até soltar nos seus dentes uma parte mais carnudinha, que corresponde à inserção da pétala no coração da alcachofra. Pode-se ou não mergulhar a pétala no molhinho. Depois que as pétalas acabarem, retire os pelinhos (você vai saber o que é quando chegar lá, rsrs) com uma colher, e o que ficar na sua mão, é o coração: ele é macio, suave, levemente amargo, e é a parte mais "nobre" da alcachofra.