sábado, 25 de julho de 2009

70 anos de pimentas!


Em 70 anos faz-se muita coisa. Pra quem duvida, é só pensar na cara do mundo na época da Segunda Guerra Mundial, e a cara do mundo hoje. Hoje acessamos informações com toques dos dedos, viajamos para o outro lado do mundo em aviões, comemos aqui no Brasil (até eu, na minha cidadezinha pequenininha aqui do interior), o que se come em todo o mundo, com relativa facilidade. Vimos em 70 anos os EUA levantarem-se como a grande potencia econômica mundial, vimos a reconstrução da Europa, o nascimento e queda da URSS. Assistimos de camarote a criação da tristeza do povo brasileiro, quando nossa democracia foi roubada, e o retorno desconfiado do povo às ruas quando a ditadura acabou. A música mudou, a arte mudou, a gastronomia elegeu e depôs modismos.



Quando eu nasci, há 25 anos, o mundo já tinha mais ou menos essa cara. Eu já nasci no reestabelecimento da democracia, lá no ABC paulista, onde os trabalhadores saíram às ruas pedindo melhores condições de trabalho, melhores salários, e participação política daqueles que carregavam a economia da região nas costas.



Quando eu nasci, meus pais escolheram para mim os melhores padrinhos do mundo, o Tio Dado e a Tia Lena. Tia Lena cuidava de mim enquanto minha mãe e meu pai trabalhavam, e eu acabava ficando lá até de noite, porque meus pais costumavam chegar depois das 20h do trabalho. Jantava as maravilhosas sopas de legumes, caldos de feijão com macarrão, carne com batatas. Ai chegava meu padrinho, e já vinha com um potinho de vidro na mão, muito colorido, chamando a atenção da criança:

" -Que é isso, Tio???

- Pimenta. Quer experimentar?

- Quero!" (eu sempre queria...)



E ai nasceu minha paixão pelas pimentas. Em tudo o que eu colocava no prato, ia lá uma gotinha das pimentas do meu Tio (as que ele deixava, as mais fortes eu não conhecia...rs). Todas as conservas dele eram guardadas num armário debaixo da pia da cozinha, lá na casa da V. Assis, e eu abria aquele armário e ficava olhando tantos vidrinhos lindos e coloridos, com tantas qualidades diferentes de pimentas, e pensava: Tio Dado é um gênio, transforma pimenta, que poucas pessoas gostam, num complemento tão perfeito para comidas quentinhas e dias frios!



O tempo passou, eu vim para Botucatu, e, morando sozinha, fui ao mercado e comprei minha primeira conserva de pimenta, de uma marca bem conhecida. Prepara o jantar, faz o prato, senta, abre o frasco de pimenta, coloca umas gotinhas na comida e... aquilo apenas ardeu a minha boca. Não muito. Ardeu só um pouquinho, mas não tinha gosto de absolutamente nada. Por que será? Compra outra marca. Experimenta. Nada. Só ardência moderada. Troca a qualidade da pimenta. Experimenta Comari em Vinagre. Nada. Será que sou eu que cresci e não gosto mais de pimentas??? Não. Não é. Até hoje, quando visito meus tios lá naquela lonjura no ABC, eu degusto as delícias da minha tia com gotinhas de pimentas do meu tio. Eu ainda amo pimentas, mas amo as conservas bem feitas, bem temperadas, perfumadas. Aquelas que não ficam rançosas mesmo conservadas por anos em vidros com óleo. Conservar pimentas é uma arte que muitas pessoas fazem bem, mas poucas são brilhantes. E hoje, correndo o risco de não conseguir fazer uma conserva de pimenta que chegue aos pés da conserva do meu tio, achei que era um bom jeito de prestar uma homenagem para ele, que ajudou a me criar com muito carinho (e pulso bem firme), que me fazia banquinhos de madeira quando eu era pequena, que guardou os primeiros desenhos que eu fiz, que me ensinou a gostar de pimentas e de literatura. Hoje ele faz 70 anos, e essa é uma grande data: é o aniversário de uma das pessoas mais importantes da minha vida. Obrigada tio Dado! E Parabéns!



CONSERVA DE PIMENTAS MALAGUETAS





  • 1 vidro de palmito, azeitona, ou outro fervido por 20 minutos em água

  • Pimentas Malaguetas (Capsicum frutescens) que completem o vidro

  • Dentes de alho descascados

  • Ramos de alecrim

  • 1 pau de canela pequenininho

  • Óleo de girassol até completar o vidro




  1. Lave as pimentas e o alecrim, e seque sobre um pano de copa bem limpo. Coloque as pimentas, o alecrim, a canela e o alho no vidro, arrumando para que fique "simpático" para quem olha o vidro de fora. Aqueça o óleo numa panela, e quando estiver beeeeem quente, derrame o óleo lentamente sobre as pimentas, até cobri-las completamente. Feche o vidro e deixa quietinha no escuro por um mês antes de usar.



PS: como eu fiz minha conserva há pouco mais de 1 hora, ainda não a experimentei, claro. Daqui a um mês eu posto um Up, dizendo se ela ficou do jeito que eu queria. Espero que sim!


4 comentários:

  1. que delicia ler este post, recordações é tudo que nós temos né....e ainda mais quando são lindas recordações....quero um "Tio Dado" para mim...rsrsrs....mande um enorme beijo para ele viu....uma excelente semana

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  2. Oi Mirela, tudo bem? Nem sabia que você tinha começado um blog. Agora já adicionei à minha lista e virei te visitar sempre. Quanto ao final de semana, infelizmente vamos nos desencontrar, pois hoje estou indo para Curitiba e só volto no domingo, no final de tarde. Na segunda começo a trabalhar novamente. É, as férias chegaram ao fim... De qualquer forma obrigado pelo convite. Bjs.

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  3. oi linda....estou sentindo falta das suas receitas maravilhosas.....beijão

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  4. oi moça, uma bela história... e vou anotar a sua receitinha de pimenta, porque cá em casa, também sinto falta da pimenta do papai. bjos

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Dúvidas? Estou aqui para tentar resolvê-las! E o que é mais provável que ocorra: me dêem dicas para melhorar! Amo aprender e terei o maior prazer em testar o seu jeitinho de fazer aquela receita...